
Um mês de tormento na vida de uma moradora do bairro de Ipioca, em Maceió. A relação de uma década entre ela e o homem suspeito de tentar matá-la foi encerrada semanas atrás com episódios de abusos e ameaças. Na última quinta-feira, 20, a tentativa de feminicídio foi registrada pela Polícia Militar, após o ex da vítima invadir a casa alugada por ela e supostamente injetar “chumbinho” na garrafa de água, num desejo de envenenar a mulher com quem conviveu por 10 anos.
Em entrevista exclusiva ao programa Fique Alerta, edição de sábado, da TV Pajuçara/RECORD, a vítima contou detalhes do relacionamento conturbado com o ex-companheiro, no período que ela decidiu pela separação. Segundo a mulher, o homem apresentou situações de alternância de comportamento, pois em momentos tentava reatar o romance, mas em outros já a tratava com mensagens de ódio.
Hoje eu poderia não estar aqui falando e ninguém nunca ia saber. Com a forma que ele vinha fazendo, eu tenho certeza que meus familiares nunca descobririam. Eles não iam pegar uma comida para fazer um exame, uma água para fazer uma revista… Então provavelmente eu ia passar mal de alguma forma com uma dosagem forte e acredito que [a morte] poderia ser imediata.
Em conversa com a repórter Carol Guibu, a vítima, que não quis ser identificada, disse acreditar que já estava sendo envenenada, sem perceber, pelo ex. Mesmo com o afastamento e com a medida protetiva que ela havia conseguido na Justiça, o homem ainda a perseguia e invadia a residência habitada por ela, mas sempre na parte do dia que a mulher estava ausente.
Com uma semana morando aqui, eu passei mal e tive uma crise, do nada. Um dia eu cheguei em casa, tomei um copo de água na geladeira e aí senti um gosto diferente. Como tinha banana dentro da geladeira, achei um gostinho de banana na água. Pensei que o produto que colocam nas bananas pode ter intoxicado a água, ou que poderia ter sido uma comida do almoço.
Ela destacou que, nesse dia, em poucos minutos, passou a ter sintomas de tontura e pediu socorro a uma familiar. Depois, a mulher foi levada a uma unidade de saúde, onde a médica que a atendeu suspeitou de gastroenterite, sem saber do possível envenenamento que está sob investigação.
Em uma questão de cinco minutos, me senti zonza e trêmula. Liguei para minha sobrinha e ela me socorreu. Relatei para a médica, ela pensou que poderia ser uma gastroenterite, me medicou, tomei um soro e fiquei boa. Do mesmo jeito que fiquei doente, fiquei boa, em ações muito rápidas.

Invasão e flagrante
De acordo com a vítima, na última vez que o homem entrou na casa sem permissão foi visto através da câmera de segurança e depois abordado pela vizinha na saída, que inclusive é a dona do imóvel atualmente ocupado pela mulher.
Na quinta-feira, estava no trabalho, e a câmera mandou uma notificação, pois ela manda quando sente a presença de uma pessoa, mesmo que seja a dona da casa. Quando abri o aplicativo da câmera, me dei de cara com a imagem dele dentro da casa. Comecei a acompanhar a filmagem e imediatamente liguei para a Patrulha da Penha, pois já havia falado com ela anteriormente, justamente por causa da medida protetiva que eu tinha. Fiquei com medo de a polícia chegar e ele não estar. Mas falei com a proprietária do imóvel, que mora na rua, e avisei a ela que ele estava em casa.
A mulher ressaltou que já havia trocado a fechadura do imóvel, por medo de invasões, e colocado um cadeado para uma maior proteção, mas as medidas não intimidaram o ex.
Eu já havia trocado a fechadura, e mesmo após a troca, eu notei coisas estranhas, como alimentação com cheiro diferente e objetos em posições também diferentes. Na segunda-feira, quando cheguei do trabalho, eu tinha deixado uma quantidade de garrafinhas de água na geladeira, e vi que estava faltando uma. Aí acendeu o alerta de que ele poderia estar entrando [na casa]. Eu comprei um cadeado, porque por mais que ele tenha a cópia da chave, acreditei que com o cadeado ele não iria arrombar, pois daria muito na cara.

A prisão
O homem foi localizado em um posto de combustível na noite do feriado do Dia da Consciência Negra, no momento em que abasteceria o veículo. A polícia destacou que ele tentou fugir, mas foi alcançado. Dentro do carro havia a seringa que ele teria usado para injetar o veneno na água. Todo o material será submetido à análise da perícia.
Ele, a princípio, negou o crime. Mas os policiais mostraram o vídeo a ele, e aí assumiu que tinha arrombado [a casa]. Ele só não disse que havia colocado chumbinho dentro da água, alega que tinha colocado um laxante, mas quando se pergunta o nome do laxante, ele não sabe dizer.
O suspeito de tentativa de feminicídio passou por audiência de custódia nessa sexta-feira (21) e a Justiça determinou a manutenção da prisão. Ele também deve responder pelo descumprimento da medida protetiva.


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