
Em apenas dois anos de atuação, o Ecopark Sol&Mar, localizado em Maragogi, no Litoral Norte de Alagoas, alcançou um marco inédito para a conservação da onça-pintada (Panthera onca): o nascimento de seis filhotes em cativeiro, resultado de um projeto rigoroso de reprodução assistida e manejo técnico de espécies ameaçadas.
O feito consolida o ecopark como um dos principais centros de preservação de grandes felinos no país, especialmente em um momento crítico para a onça-pintada, que já perdeu quase metade de sua população nos biomas da Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga, principalmente devido à caça ilegal, à redução de presas naturais e à fragmentação do habitat.
Kira, a protagonista da recuperação
Os filhotes nasceram de três diferentes ninhadas da fêmea Kira, uma onça de três patas resgatada após se ferir gravemente em uma briga com outro animal, o que inviabilizou seu retorno à natureza. O primeiro nascimento ocorreu em novembro de 2023 e o mais recente em outubro de 2024.
Segundo o médico veterinário Felipe Coutinho, responsável técnico pelo projeto, os cuidados envolvem uma equipe multidisciplinar formada por biólogos, zootecnistas e veterinários, garantindo uma alimentação equilibrada, acompanhamento médico constante e estímulos que favorecem o comportamento natural da espécie.
“O manejo considera que onças são animais solitários, então machos e fêmeas só ficam juntos no período exato do cio. Cada acasalamento é geneticamente planejado para evitar cruzamentos entre biomas diferentes e aumentar as chances de sucesso reprodutivo”, explica Coutinho.
Ele ressalta ainda que a criação dos filhotes foi feita artificialmente, já que Kira não os amamentou. “No início, eles criam vínculo com quem os alimenta, mas são progressivamente preparados para a fase adulta, com foco em formar novos casais reprodutores no futuro.”
Conservação com base técnica e legal
O Ecopark Sol&Mar opera com todas as licenças exigidas e é regularmente vistoriado pelo Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA). Além da onça-pintada, o espaço participa de projetos voltados à preservação de outras espécies ameaçadas, destinando parte da sua receita para a manutenção dos programas de conservação.
Apesar do sucesso na reprodução, o projeto ainda não prevê a reintrodução dos filhotes na natureza. O processo de soltura exige múltiplas etapas, como avaliações genéticas, adaptação comportamental e análise de áreas seguras para liberação.
“Trabalhamos em parceria com instituições que já realizaram reintroduções bem-sucedidas. A expectativa é que, no futuro, possamos também devolver essas onças à natureza”, afirma Gabriel Gouveia, proprietário do ecopark.
Alagoas no mapa da preservação
Com os seis novos filhotes, Alagoas se firma como referência nacional na conservação de grandes felinos, em especial da onça-pintada, símbolo da fauna brasileira.
“Acompanhar os primeiros passos desses filhotes foi emocionante. É um privilégio colaborar, de forma prática e responsável, com a preservação da onça-pintada no Brasil”, celebra Felipe Coutinho.
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