
No mercado comercial — e, sejamos honestos, também no político — o poder raramente se mede apenas por cargos, discursos ou números em relatórios. O verdadeiro termômetro costuma aparecer no final do ano, de forma silenciosa, embrulhada em celofane e acompanhada de um cartão genérico: as cestas de Natal e os panetones.
Não é sobre gula. É sobre status.
Não é sobre gentileza. É sobre interesse.
Quem recebe muitos presentes não é necessariamente mais competente, mas quase sempre é mais útil dentro do jogo.
- O mercado não presenteia inocentes
Empresas não gastam dinheiro à toa. Cada cesta enviada é uma aposta. Um sinal claro de quem importa, de quem decide, de quem pode abrir portas ou fechá-las. Quem não recebe, muitas vezes, descobre ali sua real posição na hierarquia informal do mercado.
- O presente como moeda simbólica
Cestas e panetones funcionam como uma moeda elegante. Não aparecem no balanço, mas circulam com eficiência. Elas compram atenção, lembrança e, principalmente, boa vontade futura. Nada mais caro do que ser esquecido em dezembro.
- Política embrulhada para presente
No ambiente político e institucional, o jogo é ainda mais explícito. O presente não pede nada diretamente, mas deixa tudo subentendido. É uma forma educada de dizer: “estamos próximos, esperamos continuar assim”. Quem ignora esse código costuma pagar o preço depois.
- Networking seletivo
Observe com atenção: nem todos recebem o mesmo tipo de cesta. Algumas são simples lembranças; outras são verdadeiros kits de prestígio. Isso revela como o mercado segmenta relações e classifica pessoas por influência, acesso e utilidade estratégica.

- Status não declarado
Você pode até não falar sobre isso, mas o mercado fala. E fala alto. O volume de presentes recebidos expõe quem está no centro das decisões e quem orbita na periferia. O silêncio constrange mais do que qualquer organograma.
- A falsa neutralidade do gesto
Não existe presente neutro em ambientes de poder. Toda cesta carrega expectativa, mesmo que não verbalizada. Espera-se retorno, acesso, prioridade ou, no mínimo, simpatia. Quem acredita que é apenas gentileza ainda não entendeu como o jogo funciona.
Conclusão
No fim, as cestas de Natal dizem mais sobre o mercado do que muitos discursos corporativos sobre ética, transparência e meritocracia. Elas revelam quem é lembrado, quem é ignorado e quem realmente importa quando as decisões precisam ser tomadas.
Talvez seja hora de olhar menos para os likes e mais para o carrinho de entregas no final do ano.
Ricardo Coelho


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